sábado, 20 de março de 2010

A Teoria Básica de Jean Piaget

Desde muito cedo Jean Piaget demonstrou sua capacidade de observação. Aos onze anos percebeu um melro albino em uma praça de sua cidade. A observação deste pássaro gerou seu primeiro trabalho científico. Formado em Biologia interessou-se por pesquisar sobre o desenvolvimento do conhecimento nos seres humanos. As teorias de Jean Piaget, portanto, tentam nos explicar como se desenvolve a inteligência nos seres humanos. Daí o nome dado a sua ciência de Epistemologia Genética, que é entendida como o estudo dos mecanismos do aumento dos conhecimentos. Convém esclarecer que as teorias de Piaget têm comprovação em bases científicas. Ou seja, ele não somente descreveu o processo de desenvolvimento da inteligência mas, experimentalmente, comprovou suas teses.
Resumir a teoria de Jean Piaget não é uma tarefa fácil, pois sua obra tem mais páginas que a Enciclopédia Britânica. Desde que se interessou por desvendar o desenvolvimento da inteligência humana, Piaget trabalhou compulsivamente em seu objetivo, até às vésperas de sua morte, em 1980, aos oitenta e quatro anos, deixando escrito aproximadamente setenta livros e mais de quatrocentos artigos. Repassamos aqui algumas idéias centrais de sua teoria, com a colaboração do “Glossário de Termos”.
1 - A inteligência para Piaget é o mecanismo de adaptação do organismo a uma situação nova e, como tal, implica a construção contínua de novas estruturas. Esta adaptação refere-se ao mundo exterior, como toda adaptação biológica. Desta forma, os indivíduos se desenvolvem intelectualmente a partir de exercícios e estímulos oferecidos pelo meio que os cercam. O que vale também dizer que a inteligência humana pode ser exercitada, buscando um aperfeiçoamento de potencialidades, que evolui "desde o nível mais primitivo da existência, caracterizado por trocas bioquímicas até o nível das trocas simbólicas" (RAMOZZI-CHIAROTTINO apud CHIABAI, 1990, p. 3).
2 - Para Piaget o comportamento dos seres vivos não é inato, nem resultado de condicionamentos. Para ele o comportamento é construído numa interação entre o meio e o indivíduo. Esta teoria epistemológica (epistemo = conhecimento; e logia = estudo) é caracterizada como interacionista. A inteligência do indivíduo, como adaptação a situações novas, portanto, está relacionada com a complexidade desta interação do indivíduo com o meio. Em outras palavras, quanto mais complexa for esta interação, mais “inteligente” será o indivíduo. As teorias piagetianas abrem campo de estudo não somente para a psicologia do desenvolvimento, mas também para a sociologia e para a antropologia, além de permitir que os pedagogos tracem uma metodologia baseada em suas descobertas.
3 - “Não existe estrutura sem gênese, nem gênese sem estrutura” (Piaget). Ou seja, a estrutura de maturação do indivíduo sofre um processo genético e a gênese depende de uma estrutura de maturação. Sua teoria nos mostra que o indivíduo só recebe um determinado conhecimento se estiver preparado para recebê-lo. Ou seja, se puder agir sobre o objeto de conhecimento para inserí-lo num sistema de relações. Não existe um novo conhecimento sem que o organismo tenha já um conhecimento anterior para poder assimilá-lo e transformá-lo. O que implica os dois pólos da atividade inteligente: assimilação e acomodação. É assimilação na medida em que incorpora a seus quadros todo o dado da experiência ou ëstruturação por incorporação da realidade exterior a formas devidas à atividade do sujeito (Piaget, 1982). É acomodação na medida em que a estrutura se modifica em função do meio, de suas variações. A adaptação intelectual constitui-se então em um "equilíbrio progressivo entre um mecanismo assimilador e uma acomodação complementar" (Piaget, 1982). Piaget situa, segundo Dolle, o problema epistemológico, o do conhecimento, ao nível de uma interação entre o sujeito e o objeto. E "essa dialética resolve todos os conflitos nascidos das teorias, associacionistas, empiristas, genéticas sem estrutura, estruturalistas sem gênese, etc. ... e permite seguir fases sucessivas da construção progressiva do conhecimento" (1974, p. 52).
4 - O desenvolvimento do indivíduo inicia-se no período intra-uterino e vai até aos 15 ou 16 anos. Piaget diz que a embriologia humana evolui também após o nascimento, criando estruturas cada vez mais complexas. A construção da inteligência dá-se portanto em etapas sucessivas, com complexidades crescentes, encadeadas umas às outras. A isto Piaget chamou de “construtivismo sequencial”.


A seguir os períodos em que se dá este desenvolvimento motor, verbal e mental.

A. Período Sensório-Motor - do nascimento aos 2 anos, aproximadamente. A ausência da função semiótica é a principal característica deste período. A inteligência trabalha através das percepções (simbólico) e das ações (motor) através dos deslocamentos do próprio corpo. É uma inteligência iminentemente prática. Sua linguagem vai da ecolalia (repetição de sílabas) à palavra-frase ("água" para dizer que quer beber água) já que não representa mentalmente o objeto e as ações. Sua conduta social, neste período, é de isolamento e indiferenciação (o mundo é ele).
B. Período Simbólico - dos 2 anos aos 4 anos, aproximadamente. Neste período surge a função semiótica que permite o surgimento da linguagem, do desenho, da imitação, da dramatização, etc.. Podendo criar imagens mentais na ausência do objeto ou da ação é o período da fantasia, do faz de conta, do jogo simbólico. Com a capacidade de formar imagens mentais pode transformar o objeto numa satisfação de seu prazer (uma caixa de fósforo em carrinho, por exemplo). É também o período em que o indivíduo “dá alma” (animismo) aos objetos ("o carro do papai foi 'dormir' na garagem"). A linguagem está a nível de monólogo coletivo, ou seja, todos falam ao mesmo tempo sem que respondam as argumentações dos outros. Duas crianças “conversando” dizem frases que não têm relação com a frase que o outro está dizendo. Sua socialização é vivida de forma isolada, mas dentro do coletivo. Não há liderança e os pares são constantemente trocados. Existem outras características do pensamento simbólico que não estão sendo mencionadas aqui, uma vez que a proposta é de sintetizar as idéias de Jean Piaget, como por exemplo o nominalismo (dar nomes às coisas das quais não sabe o nome ainda), superdeterminação (“teimosia”), egocentrismo (tudo é “meu”), etc.
C. Período Intuitivo - dos 4 anos aos 7 anos, aproximadamente. Neste período já existe um desejo de explicação dos fenômenos. É a “idade dos porquês”, pois o indíviduo pergunta o tempo todo. Distingue a fantasia do real, podendo dramatizar a fantasia sem que acredite nela. Seu pensamento continua centrado no seu próprio ponto de vista. Já é capaz de organizar coleções e conjuntos sem no entanto incluir conjuntos menores em conjuntos maiores (rosas no conjunto de flores, por exemplo). Quanto à linguagem não mantém uma conversação longa mas já é capaz de adaptar sua resposta às palavras do companheiro. Os Períodos Simbólico e Intuitivo são também comumente apresentados como Período Pré-Operatório.
D. Período Operatório Concreto - dos 7 anos aos 11 anos, aproximadamente. É o período em que o indivíduo consolida as conservações de número, substância, volume e peso. Já é capaz de ordenar elementos por seu tamanho (grandeza), incluindo conjuntos, organizando então o mundo de forma lógica ou operatória. Sua organização social é a de bando, podendo participar de grupos maiores, chefiando e admitindo a chefia. Já podem compreender regras, sendo fiéis a ela, e estabelecer compromissos. A conversação torna-se possível (já é uma linguagem socializada), sem que no entanto possam discutrir diferentes pontos de vista para que cheguem a uma conclusão comum.
E. Período Operatório Abstrato - dos 11 anos em diante. É o ápice do desenvolvimento da inteligência e corresponde ao nível de pensamento hipotético-dedutivo ou lógico-matemático. É quando o indivíduo está apto para calcular uma probabilidade, libertando-se do concreto em proveito de interesses orientados para o futuro. É, finalmente, a “abertura para todos os possíveis”. A partir desta estrutura de pensamento é possível a dialética, que permite que a linguagem se dê a nível de discussão para se chegar a uma conclusão. Sua organização grupal pode estabelecer relações de cooperação e reciprocidade.


5 - A importância de se definir os períodos de desenvolvimento da inteligência reside no fato de que, em cada um, o indivíduo adquire novos conhecimentos ou estratégias de sobrevivência, de compreensão e interpretação da realidade.



O que é, afinal, a Psicologia do Desenvolvimento ?



A Psicologia do desenvolvimento, também conhecida como desenvolvimento humano, é o estudo científico das mudanças progressivas psicológicas que ocorrem nos seres humanos com a idade. Originalmente em causa a lactentes e crianças, o campo tem expandido para incluir adolescência e, mais recentemente, adultos em desenvolvimento, no envelhecimento, e em toda a vida. Este campo examina mudanças através de uma ampla gama de temas, incluindo habilidades motoras e de outros processos psico-fisiológicos, resolução de problemas, habilidades de compreensão conceptual, a linguagem e a sua aquisição moral, compreensão, de identidade e de formação.
Desenvolvimentistas psicólogos investigaram questões fundamentais, tais como saber se as crianças são qualitativamente diferentes dos adultos ou simplesmente falta a experiência que se baseia em adultos. Duas questões importantes que dizem respeito à natureza do desenvolvimento. Uma delas diz respeito quer desenvolvimento ocorre através da acumulação gradual de conhecimento ou por turnos a partir de uma fase de reflexão para o outro. O outro diz respeito a saber se as crianças nascem com conhecimento inato ou valor as coisas através da experiência. Uma terceira área significativa da investigação analisa contextos sociais que afectam o desenvolvimento.
Desenvolvimentista psicóloga aplicada informa vários domínios, incluindo: psicologia educacional, psicopatologia infantil e psicologia forense desenvolvimentista. Desenvolvimentista psicóloga complementa vários outros campos de investigação fundamental em psicologia incluindo psicologia social, psicologia cognitiva, desenvolvimento cognitivo, ecológica e de psicologia psicologia comparativa.


quarta-feira, 17 de março de 2010


O nosso projecto consiste no estudo do desenvolvimento cognitivo do ser humano, particularmente o da criança, onde se processa uma grande parte do mesmo. Baseia-se na interpretação de comportamentos desta faixa etária (dos zero aos sete anos), com o intuito de compreender os comportamentos e atitudes esperados, para que assim, depois da sua análise, seja possível entender o porquê de determinados actos.
Para pudermos desenvolver correctamente o nosso projecto, faz sentido em primeiro lugar iniciarmos com a análise teórica do nosso tema “Psicologia do Desenvolvimento” assim como de toda a teoria elaborada por Piaget, uma vez que este funciona como base de todo o nosso estudo.
A Psicologia do Desenvolvimento estuda os aspectos cognitivos e motores no desenvolvimento do ser humano e as suas mudanças de comportamento relativas à idade.
Jean Piaget realizou inúmeras experiências com crianças, o que lhe permitiu obter importantes conclusões acerca do modo como se processa o desenvolvimento das mesmas. Desenvolvimento este, que dividiu em quatro estágios, considerando o intervalo de idades dos zero aos dezasseis anos, sendo estes:
→ Estádio Sensório-motor (0-18/24 meses): Durante este a actividade cognitiva baseia-se na experiência imediata através dos sentidos que interagem com o meio. Visto que a criança ainda não fala, vai ficar limitada à reacção que tem no momento, pois as crianças vêem e sentem o que está a acontecer mas não conseguem caracterizar. Define-se principalmente pela construção da imagem mental, anterior à linguagem; coordenação de meios e de fins; permanência do objecto (8-12 meses); invenção de novos meios, imagem mental e formação de símbolos (18-24 meses).

→ Estádio Pré-operatório (2-7 anos): Este estádio é fundamental para o desenvolvimento da criança, pois esta apesar de ainda não efectuar acções, já usa a inteligência e pensamento. Contrariamente ao primeiro estádio, neste a criança já organiza as ideias através do processo de assimilação, acomodação e adaptação. Define-se pela função simbólica: linguagem, jogo simbólico,desenho(2-4 anos); inteligência representativa; egocentrismo-centração; pensamento mágico: animismo, realismo, finalismo, artificialismo; pensamento intuitivo (4-7 anos).

→ Estádio das Operações Concretas (7-11/12 anos): Aqui, é onde se organiza verdadeiramente o pensamento, pois a criança começa a ter capacidades para realizar acções precisando de ter a noção de realidade. Uma das actividades que poderemos elaborar neste, é com copos de água. Visto que a criança já tem a noção de quantidade, peso, espaço, tempo e classificações numéricas. Define-se pela reversibilidade mental; pensamento lógico, acção sobre o real; conceitos de tempo, de espaço e de velocidade. Já tem interiorizado algumas regras sociais e morais, por isso cumpre-as tentando proteger-se. Nesta fase, a criança começa a ter noção de grupo e de líderes. Assim sendo, começa a colocar-se no ponto de vista das outras pessoas, começando a haver diálogo. Consequentemente há uma melhor estruturação do pensamento e melhora da concentração.

→ Estádio das Operações Formais (11/12-15/16 anos): É nesta que se começa a entrada na adolescência, e assim sendo há um desenvolvimento notável nas características do pensamento. Começa a realizar raciocínios abstractos, sem recorrer à realidade. Desenvolve a sua identidade, o que poderá levar a dúvidas entre o certo e o errado. Define-se pelo pensamento abstracto; operar sobre operações, acção sobre o possivel; raciocínios hipotéticos-dedutivos; definição de conceitos e de valores; egocentrismo cognitivo.

Como tal, esta divisão facilitou a compreensão do nosso tema na medida em que, através dela, construímos uma sequência lógica e simples para o desenvolver do projecto.
Um dos problemas que acabou por surgir foi, inevitavelmente, a falta de tempo para abordar prática e teoricamente todas as fases do desenvolvimento humano. Assim sendo, optamos por trabalhar apenas dois dos quatro estágios: o sensório-motor e o pré-operatório, tendo em conta que é nestas idades que a criança adquire grande parte das competências necessárias ao seu crescimento. É durante estas fases que começa a consciencializar-se do objecto, acontece a primeira socialização, surge a primeira palavra, entre muitas acções que são, estritamente importantes na formação cognitiva, social e moral do indivíduo.
Posteriormente, foi conseguida a autorização para a interacção do grupo com as crianças do ensino pré-primário e básico do Colégio de São Gonçalo, fundamental para a execução do nosso produto final. Assim, começamos a observar algumas actividades que nos podem ser úteis, tal como a realização do desenho. A sua interpretação tem como objectivo a determinação do grau de desenvolvimento da criança. Além deste, existem actividades específicas para verificar as tarefas típicas para cada etapa de desenvolvimento, nomeadamente o sensório-motor do estádio pré-operatório.

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